Tudo era humilde em Patna:
torneiras secas,
cortinados tristes,
salas sonolentas.
Mas as flores de ervilha cheiravam com a violência
de um pássaro que dá todo o seu canto.
As ruas, modestas.
O campo, submisso:
as batatas pareciam apenas torrões mais duros.
As casas, simples,
as pessoas, tímidas.
Tudo era só bondade e pobreza.
Mas as flores de ervilha cheiravam com a violência
de uma cascata despenhada.
As flores de ervilha enchiam com o seu perfume toda a cidade,
penetravam no museu, animavam os velhos retratos,
dançavam pelas ruas, frescas e policromas,
alegravam o céu e a terra,
coroavam a tarde com seus ramos apaixonados.
As flores de ervilha mandavam mensagens
até o fundo do rio
para as afogadas, saudosas grandezas remotas de Patna.
Cecília Meireles: Poemas Escritos na Índia.